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... tinha que falar da gripe das aves. Desculpem. Continuem lá o zapping.
A sociedade ocidental é controlada pelo medo. Medo dos terroristas. Medo dos pretos, dos ciganos, dos emigrantes. E medo das doenças.
Periodicamente surge uma doença da moda, que vai matar toda a gente. Ganham os políticos, com o povão a olhar para outro lado e eles a poderem mostrar que controlam (est)a situação. Ganham os jornalistas, e ganham muito mais os donos das multinacionais que controlam a imprensa. Ganham os laboratórios farmacêuticos. E no final não morre ninguém, e ficamos todos contentes.
Foi assim com a sida*, com a doença das vacas loucas, com a SARS, e agora com a gripe das aves.
Reparei como a coisa começou, há uns meses, com pequenas notícias dispersas sobre as pandemias de gripe, e entrou depois na actual espiral. Valia a pena tentar saber se a
guerra judicial entre a Roche e a Gilead Sciences Inc, o laboratório que inventou o Tamiflu, tem alguma coisa a ver com isto. Os inventores fundamentavam a queixa na alegação de que os compradores não faziam uma divulgação suficiente do produto...
Agora, claro, com
60 pessoas mortas desde 2003, o assunto adquire importância mundial. E tinha mesmo que ser, não é? Sessenta pessoas em 2 anos isso dá, para aí, 3 mortos por mês. Assustador. Sobretudo se comparado com as 3 pessoas que morrem por dia nas estradas de Portugal. E estamos a falar de um conjunto de países no Sudoeste Asiático com uma população de mais de 400.000.000 de pessoas.
Mas,
dizem-me, esta doença é perigosíssima em pessoas: das 117 infectadas morreram 60. Logo, se és infectado tens 50% de hipóteses de sobreviver. (OMS: "
In the present outbreak, more than half of those infected with the virus have died."; "
WHO reports only laboratory-confirmed cases.") Hummm...
Em Portugal, a quantas pessoas é que é feita a análise molecular da estirpe do vírus que a infectou? E agora imagine-se no Viet Nam? Quantos indivíduos estavam na sua barraquinha, com uma hortinha, um porco, umas galinhas e patos à solta no quintal, sentiram-se mal, uma gripezita, três dias de cama e pronto? Ninguém sabe, mas eu imagino que devem ter sido muitos. Parece-me lógico que só os casos mais graves terão ido parar ao hospital, e destes só os mais estranhos terão sido testados. E, entre esses, não é de estranhar que a mortalidade seja elevada.
Mas, dizem-me, existe a possibilidade de o vírus se transmitir entre humanos. Pois existe. Assim como existe a possibilidade de eu ganhar o Euromilhões. E hoje o José Rodrigues dos Santos já dizia "QUANDO a pandemia começar..." Foi do entusiasmo, de certeza, eu até tenho boa impressão do rapaz!
Mas não se pense que não me assustei. Fiquei até muito aflito, mas foi quando começaram a falar de aves migratórias. Cheguei a pensar que iam sugerir o abate em larga escala de patos selvagens, gansos, cegonhas, flamingos, essa passarada toda que anda para aí criminosamente a espalhar doenças. Mas não. Ninguém falou nisso. Pelo menos ainda não. Falam é em proibir a caça- sempre há males que vêm por bem.
Para continuar a rir com este assunto (para não chorar) ler o texto de
João Pereira Coutinho. Para os masoquistas, que querem mesmo é chorar, recomendo o blogue
Pharma Watch.
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* Desta não morreu ninguém, mas não há motivos para contentamento...