Há ideias feitas, que se aceitam acriticamente, e que no entanto têm um poder destrutivo imenso. Algumas delas foram mesmo criadas para isso mesmo. Veja-se por exemplo a ideia de que pobreza é não ter dinheiro. Claro que não é. Antes de haver dinheiro, toda a gente era pobre? Num mundo em que tudo é visto em termos comerciais, em que tudo se compra, as pessoas não percebem que a definição fundamental de pobreza é a incapacidade de se bastar a si próprio. E que na esmagadora maioria dos casos, essa incapacidade resulta de injustiças contemporâneas ou passadas. A pobreza em África, por exemplo, não derivará da expropriação a que o continente foi exposto desde há séculos?
Li só hoje o artigo de David Rieff na Prospect de Julho (v. artigo resumido no Guardian), em que ele argumenta que o LiveAid complicou a situação política que se vivia na Etiópia na altura, tendo sido aproveitado para dar cobertura a um projecto estalinista de recolocação forçada e assassínios em massa que terá morto mais pessoas do que aquelas que foram salvas pela ajuda "humanitária".
E fico a pensar que era bom que este novo movimento, cheio naturalmente de boas intenções, não passasse disso mesmo. Porque se é o actual paradigma do "desenvolvimento" que cria a pobreza, será possível erradicá-la sem mudar os pressupostos?
segunda-feira, novembro 14, 2005
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