sábado, junho 11, 2005

Os livros da minha vida: 3 - O Parque Jurássico, M. Crichton


Jurassic Park- o livro Posted by Hello

Aceleramos no tempo para 1996. Estou a acabar o doutoramento e compro para oferecer a um amigo e aluno de biologia uma história com dinossauros que me pareceu interessante. Ele excomungou-me dias depois porque não tinha conseguido largar o livro até o acabar, e que isso lhe tinha trasntornado o estudo para as frequências. Emprestou-mo então, para se vingar. E fiquei preso, também.
O livro tem todos os ingredientes de uma história de suspense com sucesso, sobrepostos a uma base com actualidade científica. Aliás Michael Crichton domina bem a fórmula e, de "The Andromeda strain" até ao mais recente "State of Fear", é considerado o pai do techno-thriller.
Mas não é por causa dos talentos de Crichton que o livro aqui aparece: é por causa dos assuntos que aborda.
Para quem estava a fazer um doutoramento sobre ecologia de comunidades, foi uma revelação descobrir a teoria dos sistemas complexos, sobretudo apresentada de forma tão atrativa. Isso levou-me a pesquisar o assunto o que me levou a muitos campos, do estudo da evolução ao da origem da vida (e da vida artificial), e a revisitar o Macroscópio, que não lia desde os tempos da faculdade. Todas estas leituras vieram confirmar uma daquelas minhas impressões quase subconscientes: que TUDO está ligado, que nada é simples. Para compreendermos verdadeiramente qualquer coisa temos que ir para lá da superfície, e para mudarmos alguma coisa temos que mudar as suas causas primárias.
De repente muitas coisas começaram a fazer clique, e não apenas no campo da Biologia. O modo como comportamentos altamente ordenados podem surgir sem uma autoridade centralizada é ilustrado pelas sociedades de insectos (carregar Setup e depois Go) mas também é confortável para a minha costela anarquista.
É um livro que penso que todos os biólogos devem ler, pela forma como integra uma série de assuntos, da biologia molecular à ecologia de comunidades. E como ilustra a importância de ter um conhecimento aplicado, dominando a teoria mas estando consciente das suas implicações em casos concretos mas, sobretudo, das suas ligações a tudo o resto.

2 comentários:

LN disse...

A primeira vez que li, ficou-me mais a Teoria do Caos (na altura já era fã de Crichton e descobri «os seus talentos» com Congo). Gostei da forma como o matemático coloca as coisas... até porque muitos fenómenos não podem ser previstos por leis matemáticas.

Gosto do «efeito Borboleta»
"uma borboleta bate asas na China e causa um furacão na América"
e do desafio do comportamento caótico (devia dizer errático) e de difícil previsibilidade.

Gosto ainda da ideia de que, com este nome (Teoria do Caos) se procura um padrão para o comportamento irregular.
E ficou-me a cena do filme, da gota de água a deslizar pela mão...

José Azevedo disse...

Um livro atinge o seu objectivo quando muda alguma coisa nos leitores. E quando sobre ele partilhamos experiências torna-se uma ponte. Como aconteceu agora.