No estado de tensão em que estou (desculpem, mas não quero dizer stress nem consigo dizer estresse...) é óbvio que este artigo do Prospect me tinha que trazer aqui. As idéias base já são minhas conhecidas há muito tempo: dinheiro só dá felicidade até certo ponto- aquele em que as necessidades básicas estão satisfeitas. Podemos discutir o que são necessidades básicas, mas demonstra-se que muitas pessoas vivem muito acima desse nível e que, em termos médios, a felicidade não cresce linearmente com o rendimento.
Por outro lado, já enerva toda a política ser dominada pela economia. Estas últimas eleições, então, foram um enjôo. O PSL ainda tentou discutir a eutanásia e a clonagem, mas ninguém lhe ligou. Nem deviam claro, porque PS e PSD tentaram à sua maneira iludir as questões essenciais. Não interessa ao dia-a-dia da generalidade das pessoas o ritmo de crescimento da economia, nem se o défice ultrapassa os 3%. Aos menos abonados interessa o emprego, ou pelo menos o trabalho. E não é seguro que uma coisa ou outra estejam ligadas aqueles indicadores macro-económicos. Aos restantes interessa muito mais a felicidade. Pensem no vosso caso. Perguntem às pessoas! É uma necessidade biológica, pois então.
Daí que muita gente defenda que, em vez do Produto Interno Bruto, se devesse falar da Felicidade Interna Bruta. E não são uns maluquinhos: há nóbeis da Economia, "think-thanks" influentes e a idéia até já foi adoptada por um país, o Butão.
Aqui ficam alguns apontadores sobre este assunto: um artigo importante dos psicólogos Diener e Seligman, o "Well-Being Program" do grupo londrino New Economics Foundation, o Spirit in Business (de onde se pode descarregar o relatório de Sander Tideman), e, já agora, as exigências utópicas de Eduardo Galeano.
domingo, maio 01, 2005
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2 comentários:
Boas!
Primeiro q tudo, felicito-lhe pela decisão de criar um blog comentável. Várias vezes tive a vontade de comentar algumas das suas ideias. Esta foi uma delas, pelo q vou aproveitar a oportunidade de comentar.
Acho interessante essa ideia de Felicidade Interna Bruta, principalmente pq é fácil de perceber q as pessoas nao são, de uma forma geral, mais felizes e mais satisfeitas com a sua situação pessoal do q nos últimos anos (falando no nosso país claro!!!). No entanto, achei curioso dar o exemplo do Butão, um país onde existe repressão religiosa e política, e onde a liberdade de expresão e a livre iniciativa sao conceitos ainda marginais.
Por outro lado, gostava de saber o q entende por necessidades básicas. A saúde, seria para mim uma necessidade básica, no entanto, em vários países incluindo o nosso, é preciso dinheiro para se ter cuidados médicos. Posso-lhe dar o exemplo da minha avó, q foi internada no hospital com uma tuberculose em fase avançada, e só teve cuidades médicos dignos desse nome qd foi levada para um hospital particular. O mmo aconteceu com um conhecido meu aí de S. Miguel. Foi-lhe diagnosticado um cancro nas cordas vocais resultado de anos de tabaco. Ainda hoje fala graças às suas capacidades económicas q lhe permitiram deslocar-se aos U.S.A. para ser tratado por um dos melhores cirurgiões do mundo. Concerteza conhecerá tb casos semelhantes. No q toca à educação então nem se fala! As propinas, os livros, as deslocações, e no caso particular dos Açores, o custo de viver deslocado, uma realidade q sei conhece bem. Tendo isto em conta, parece-me q o dinheiro traz felicidade, na medida em q permite satisfazer mtas das necessidades básicas. É uma análise básica e incipiente, eu sei, mas queria apenas dar uma visão alternativa e estimular a discussão (penso q é esse o objectivo dos bolgs). Lembrando Fernando Pessoa "O dinheiro traz consigo apenas a liberdade de não pensar nele."
Obrigado! E bem vindo(a)- pena não ter assinado...
Aqui há tempos tentei, sem sucesso, persuadir um ex-aluno que tinha uma formação anterior em Economia a prosseguir um mestrado ou um doutoramento na área de cruzamento destas duas disciplinas. Pareceu-me na altura que havia muito por onde começar: a questão das externalidades das actividades económicas, ou
da contabilização dos serviços prestados pela natureza.
Hoje estou um bocado pessimista e não acho que se chegue a mudar o que precisa de ser mudado, em termos de conservação da natureza mas também (e sobretudo) de felicidade humana, pela via tecnocrática. Não é por falta de estudos que as mudanças não acontecem. É porque há uns poucos a quem interessa que as coisas fiquem como estão, e uma grande massa que não sabe/não responde.
Não é fácil definir o que são necessidades básicas, claro. As minhas são muito diferentes das do José Mourinho e das de uma empregada de uma fábrica de confecções na China. A nossa
constituição contém uma série de direitos, entre os quais o "direito à protecção da saúde". Mas do que escreve ao que se faz vai um grande passo...
Sei muito pouco acerca do Butão, mas não pretendi elogiá-lo. Li acerca de repressão, exílios forçados, desigualdade. Se calhar também aí se está perante um caso de contradição entre o que se escreve e o que se faz. Nada que seja novidade...
Volte sempre!
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