É possível de alguma forma sobrepôr uma perspectiva temporal e de desenvolvimento pessoal à taxonomia de Bloom. Assim, em 1968, William Perry publicou um esquema de desenvolvimento epistemológico que ainda hoje é usado e que tem pontos interessantes. Neste esquema o estudante começa num estado dualista, em que "o conhecimento é visto como objectivo e definitivo, um conjunto de factos que constitui a verdade acerca de um assunto que deve ser distinguido da opinião, que não pode ser provada". À medida que se apercebem da natureza multifacetada do conhecimento, os estudantes passam por uma fase em que admitem que "o conhecimento depende do esforço pessoal de organização e interpretação da informação disponível, sendo uma interpretação tão boa como outra qualquer". Na fase final, o estudante "tem a percepção de que o conhecimento é melhor expresso como níveis ascendentes de consciência, no qual o indivíduo deve evoluir para novas perspectivas, libertando-se das que já não são úteis".
Tenho estado a basear-me e a traduzir de um texto de Sharon Pugh (arquivado aqui), onde este modelo é descrito e complementado com descrições de outros modelos similares.
A aplicação deste esquema às áreas científicas sugere que a generalidade dos alunos (e dos professores) estão presos nos primeiros estados de desenvolvimento, são sub-desenvolvidos epistemológicos :-) E discutir estes assuntos, ou pelo menos ter consciência deles, parece-me importante num contexto de alteração radical dos paradigmas do ensino. Que é o que se pretende. Ou não?
quinta-feira, junho 16, 2005
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4 comentários:
Ou não?...
Confesso que sorri do "epistemologicamente subdesenvolvidos" - mas das próprias metáforas utilizadas, a ancoragem no porto pode parecer (para alguns) mais aliciante que entrar oceano adentro e, pior!, procurar mares desconhecidos.
Agora, quando se trata de ensinar é muito pertinente perguntar pela exemplaridade do professor - ainda que muitos estudantes sobrevivam e superem professores sub.
E interrogo se o «contexto de alteração radical dos paradigmas do ensino» não tem, ele mesmo, uma certa estratificação?! Nãos erá horizontal, decerto. E, como em todas as mudanças, há sempre grupos que são imunes ou muito resistentes.Esperemos que não sejam muito grandes :)
LN, o facto de alguns (os bons?) estudantes superarem professores sub leva-me a perguntar para que servem então os professores. Não consigo evitar estar sempre a pensar nisto- é o Ivan Illitch a trabalhar no subconsciente. Claro que tenho algumas respostas, mas o desconforto permanece.
Não percebi a estratificação... :-(
A imunidade, essa, temo que seja nacional, e que o desenrascanço português consiga dar a volta a todas as boas intenções subjacentes ao processo de Bolonha.
Espero que os estudantes precisem de ser bons para superarem... mas podem ser mais intuitivos, ou mais perceptivos para uma visão global/complexa.
»Para que servem os professores?» mantem o registo utilitário ("servir para") e muitas coisas importantes não alinham no pragmatismo (eu sei, esta foi ao lado).
Se existem professores sub, há «camadas» ou «estratos», a que (julgo) nem um novo paradigma resistira. Portanto, poderá vir a instalar-se de modo semelhante, com gente a vários níveis de resposta ao paradigma. Ou não?
Perhaps. Eu acho que sou um optimista com pele de pessimista... :-)
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