Deve ter sido no início dos anos 80 que comprei na Feira do Livro os 3 volumes da História do Futuro (Time enough for love, Robert A. Heilein). Na altura já tinha uma atração por ficção científica, mas este livro mudou para sempre a minha compreensão do género. Heinlein usa a FC como campo para expor as suas ideias sobre a organização da sociedade, mas tecendo ao mesmo tempo cenários realistas de desenvolvimento tecnológico e científico. Intelectualmente muito mais estimulante do que as coboiadas do StarWars e coisas do género.
A ideia central do livro é: o que aconteceria se vivêssemos mais tempo? MUITO mais tempo? A vida da generalidade das pessoas mede-se em meia dúzia de décadas, marcadas por acontecimentos padronizados: infância, adolescência, emprego, casamento, filhos, reforma. E se a vida não parasse aí? Qual o sentido do casamento, por exemplo, se as pessoas vivessem várias centenas de anos? Em "A História do Futuro", o casamento é tido como um contrato entre duas pessoas com a finalidade de ter e criar filhos. Tem um princípio e um fim, independentemente da evolução emocional das pessoas envolvidas.
Há um ângulo biológico aqui, que tem a ver com o modo como as pessoas atingem essa longevidade: por selecção, claro. Existe uma Fundação Howard que tem um fundo que paga a pessoas que vêm de famílias com história de longevidade para se casarem e terem filhos (é obrigatório ter todos os avós vivos na altura do casamento). E o prémio é maior se os membros do casal já pertencerem a famílias Howard. Claro que há depois problemas de consanguinidade, mas a ideia é interessante...
A componente política dos livros também me cativou: Heinlein é um libertário, no sentido em que defende a menor intervenção possível do Estado na vida pessoal. Mas também coloca os seus personagens sob estados totalitários, ou em comunidades em que os costumes são controlados. Nessas situações, é interessante ver como advoga o disfarce, as vidas paralelas e, sempre que possível, a evasão. Os personagens de Heinlein têm pouca intervenção política- mudam-se. O que faz sentido se pensarmos em situações extremas, como a dos judeus na Alemanha de Hitler: "In a society in which it is a moral offense to be different from your neighbor your only escape is never to let them find out."
Penso que li todos os livros de Heinlein, excepto For Us, the Living, que acabo de descobrir que saiu o ano passado. Outro livro dele que me marcou foi Estranho numa terra estranha (Strange in a Strange Land), cuja leitura partilhei com alguém muito especial. Pode ter-se uma ideia geral do pensamento de Heinlein lendo os Notebooks of Lazarus Long, o personagem central de Time Enough for Love.
.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
è engraçado como os livros da sua vida sao tb os meus,infelizmente nao possuo nenhum uma vez q pertenciam a uma amiga , espero ainda encontrá-los juntamente com "os herois de matusalem" e o Contacto de Carl Sagan que tb acho mto bom
Abraço
Nuno
Nuno:
É interessante saber isso. Sabe que existem alfarrabistas na net? Não têm aquele cheiro doce de livros velhos, mas pode conseguir encontrar o que quer. O alfarrabista.com tem disponíveis pelo menos 6 livros do Heinlein.
Apareça :-)
Adorei amor sem limites. Estou terminando um estranho numa terra estranha. E tb tô adorando. Quero ler outros livros do Heinlein. Alguma sugestão?
Bjs.
Enviar um comentário