Muitos biólogos pensarão que a evolução da espécie humana parou. De facto, muitas das pressões selectivas que nos moldaram no passado desapareceram- pelo menos para aqueles suficientemente sortudos para terem nascido do lado certo do planeta. Mas continuamos de facto a evoluir. Não talvez no sentido físico: nada nos transformará nas criaturas frágeis de cérebros gigantescos da FC dos anos 60. Mas a internet pode ser o início do sistema nervoso de um super-organismo, em que cada pessoa terá a individualidade de uma abelha num enxame. É uma idéia muito plausível, que ocupa gente como Francis Heylighen.
Coisas complicadas são sempre melhor entendidas com ficção- eu, por exemplo, decidi escrever esta entrada depois de ter lido a sátira na Wired, e me ter lembrado de um texto do Lazarus Long (aliás R. A. Heinlein):
A human being should be able to change a diaper, plan an invasion, butcher a hog, conn a ship, design a building, write a sonnet, balance accounts, build a wall, set a bone, comfort the dying, take orders, give orders, cooperate, act alone, solve equations, analyze a new problem, pitch manure, program a computer, cook a tasty meal, fight efficiently, die gallantly. Specialization is for insects.
6 comentários:
Obviamente, depende do ponto de vista, mas a evolução na espécie humana nao parou, tendo em conta uma série de argumentos q passo a citar. De acordo com o senhor Kimura (apoiado pelo senhor Kingman), a evolução é constante. Essa evolução, pode não se transmitir ao fenótipo (o q segundo uma visão Mayrista é a mma coisa q dizer nao estar sujeita a selecção), mas ela ocorre. Nesse sentido, a espécie humana está a evoluir. Por outro lado, a genética d epopulações dita q a evolução é a alteração de frequências alélicas ao longo das gerações. Tb desta forma, a espécies humana está a evoluir, tendo em conta o aumento de cruzamentos interpopulacionais, internacionais, e interraciais q tem existido nos ultimos anos. É por isso q recentemente se tem feito a divisão entre evolução e adaptação. Por vezes, uma população (ou espécie, como preferirem!) altera-se nas suas frequências alélicas, vai alterando-se em termos de linhagens, mas muda pouco morfologicamente. Isto é evolução (sensu lato). Outras vezes, uma população adapata-se a estimulos externos devido a selecção natural, podendo alterar assim as suas cores, o seu tamanho, enfim, o seu fenótipo. Isto é adaptação. Mesmo assim, a espécie humana tem vindo a sofrer adaptação, mesmo nas sociedades ocidentais ("o lado certo do planeta"). Veja-se o recente caso da imunidade contra o virus da SIDA na Europa (sim, eu sei q é um caso polémico! :) ). Mas existem outros exemplos, como as mortes por cancro o excesso de colesterol, as mortes nas estradas, ou as mortes devido a toxicodependências. Todas estas mortes estão ligadas até certo ponto a factores genéticos hereditários, e como tal, estão sujeitos a evolução por selecção natural. Ou então, vejam-se as diferenças morfológicas q existem entre, por exemplo, diferentes povos da Europa. Ou seja, a espécies humana parece estar parada em termos evolutivos, mas apenas da mma forma q o elefante parece estar parado em termos evolutivos. Nenhum de nós verá na sua vida uma espécie a evoluir (a nao ser q se considere a extinção como parte da evolução), e no entanto, elas evoluem, incluindo a humana.
Em relação à internet, nao penso q se trate de um fenómeno diferente da invenção dos correios, ou do telefone, ou da televisão. É um meio de comunicação com as suas potencialidades, os seus perigos e os seus defeitos. Nao percebo pq poderá ser "o inicio de um sistema nervoso de um super-organismo". Parece-me simplesmente uma nova forma de trocar informação. Pode manipular mentes e alterar opiniãos, mas apenas da mma forma q um jornal, ou uma televisão. É claro q podemos pensar num sistema nervoso como um conjnto de seres vivos (as células) a trocarem informação de alguma forma. Mas e então?! Será q isso muda de forma significativa a forma como devemos encarar os vicios de uma sociedade? Penso q não!
Finalmente, a especialização é uma característica de uma sociedade, seja ela qual for. Não só uma característica, mas uma das suas principais vantagens. As formigas têm especializações, os elefantes têm especializações, os Leões têm especializações, os Golfinhos têm especializações (para citar apenas alguns). O facto de podermos contar com q outros façam certo tipo de tarefas, permite-nos gastar mais energia noutras, e termos mais sucesso como um todo (eu sei q estou a usar conceitos vagos como tarefas, ou sucesso, mas acho q dá para ter uma ideia. Se for mto confuso digam, q eu especifico). Mas, sinceramente, não vejo grande mal nisso! Talvez esteja perceber mal a ideia do post, mas é para isso q servem os comentário, para q nao fiquem dúvidas. ;)
Muito bem!
Claro que se nos metermos em piquinhices, atascamos. Eu, por exemplo, não vejo com bons olhos separar evolução de adaptação, porque são dois planos que se sobrepõem. Mas quando escrevi estava a pensar em macro-evolução, e é esse o sentido do texto da Wired.
Estava também no meu subconsciente o livro de Maynard Smith e Szathmáry, "The major transitions in evolution". Estes autores comparam eventos que foram importantes na criação de complexidade, e extraem características comuns muito interessantes. As transições mais recentes foram a passagem de protistas para seres com diferenciação celular, de indivíduos solitários para colónias, e de sociedades de primatas para a sociedade humana, com a invenção da linguagem. Em todas estas passagens houve criação de novas maneiras de transmitir a informação. A linguagem humana não é só uma elaboração dos grunhidos dos símios- é uma forma de transmitir informação qualitativamente diferente, com uma gramática universal e representações semânticas ilimitadas.
[agora traduzo livremente do último parágrafo] Esta foi a última transição que teve uma base genética. Mas não foi a última. A invenção da escrita tornou possível a emergência das modernas sociedades à escala planetária, dominadas pela razão e pela ciência e não pela magia e pelos rituais. Estamos hoje no meio de uma outra transição, em que a informação é armazenada e transmitida electronicamente. É impossível saber onde ela nos levará, mas a emergência dos vírus informáticos pode ser um aviso: temos que prever a possibilidade de sermos substituídos por um novo tipo de entidade auto-replicadora.
Sobretudo, como diz o Heylighen, se avançarmos na integração cibernética. E aqui entramos nos cenários do Matrix. E era contra esses cenários que o Lazarus Long se rebelava. A perda da individualidade, no fundo. Dizem Maynard Smith e Szathmáry que uma característica de muitas das transições é que as entidades que eram capazes de replicação independente antes da transição passam, depois dela, a poder replicar-se apenas como parte de um todo.
Auch!
Pelo tom da sua resposta, pareceu-me q ficou ofendido ou irritado com o meu comentário. Se foi esse o caso peço desculpa, pois nao foi minha intenção ofende-lo, mto menos irritá-lo. Dito isto passo a responder, novamente sem qq intenção de o irritar ou ofender.
Em relação ao primeiro paragrafo da resposta, vou partir do principio q nasceu da sua suposta irritação ou ofensa. Acredito sinceramente q sabe mais sobre biologia do q a sua resposta transpareceu.
Em relação ao resto: parece-me q existem duas noções nessa ideia q me fazem discordar dela. A primeira é q terão sido os mmos processos q levaram ao aparecimento da multicelularidade e das sociedades de organismos, aqueles q estão a levar ao aparecimento de um superorganismo unido pela internet. Obviamente não são, e acho q sabe bem porquê.
A segunda é a de q a criação de um superorganismo unido pela internet, levará inevitavelmente a perda de individualidade e livre arbitrio, o q culminará numa incapacidade de um individuo se reproduzir independentemente do conjunto. Esta noção merece ser discutida.
Primeiro q tudo, gostava de enfatizar q a ficção cientifica e apenas isso: uma ficção q tem como base alguns conceitos cientificos. Em ultima analise é uma obra literária, nao uma previsão séria. Qd confrontado com o epiteto de profeta, Arthur C. Clarke respondeu simplesmente: "Eramos tantos a escrever tanta coisa, q algum de nós tinha q acertar!". Pq é q digo isto? Pq o conceito de um cérebro global (ou superorganismo) tem sido uma ideia particularmente recorrente na ficção cientifica, assim como a noção da existência de mais do q 3 dimensões (4, 5, 6, 7, 8, etc.) e da possibilidade de viagens intergalácticas. E de facto, a analogia da sociedade humana com um superorganismo tem sido utilizada nos mais diversos campos filosóficos, mas sempre com uma conotação diferente, e para transmitir ideias diferentes. Aquela de q estamos a falar, é a de q a internet (e as novas tecnologias de informação), será o factor decisivo na criação desse superorganismo. Como disse anteriormente, a possibilidade de indivíduos de qq parte do mundo poderem trocar informação de forma rápida não me desperta qq objecção, penso até ser algo positivo para o aumento do conhecimento. Actualmente, é possível saber o q outra pessoa no outro lado do mundo está a fazer, desde q disponibilize essa informação na internet. Em ciência, por exemplo, isso é extremamente positivo. Existe, está claro, o problema do excesso de informação, q é mto dificil de gerir pelos nossos cérebors "limitados". É por isso q se desenvolvem formas de gestão dessa informação, como, os motores de busca com diferentes características, o fornecimento de links para páginas relacionadas, etc.. Essa é uma das características do "cérebro global". Não nos esqueçamos, no entanto, q é ainda uma tecnologia bastante recente, e ainda em desenvolvimento. A gestão da informação é ainda débil, mas está a melhorar. Poderá argumentar-se q, desta forma, apenas chegamos à informação q nos é dada pelos motores de busca e pelos links, mas acho q isso depende de cada um de nós. Para dar um exemplo, forneceu-me um link para um artigo da Wired sobre o assunto (q digo-lhe desde já, novamente sem qq intenção de ofender, q é dos piores textos q tenho lido ultimamente. Demonstra simplesmente q nao é só em Portugal q é possível uma pessoa chegar a um cargo de responsabilidade sendo completamente ignorante sobre o assunto de q ficou responsável). Obviamente nao me fiquei por aí. Consultei outros sites, nos quais selecionei certos links, da mma forma q deixei outros de lado. Ou seja, a perda de individualidade (e de uma opinião própria) não nasce da internet por si só, mas sim da manipulação de informação. O 3º Reich conseguiu por uma nação praticamente inteira a pensar da mma forma sem qq tipo de intervenção da internet. Essa manipulação pode ser conseguida de forma coerciva, através de violência física (obviamente menos eficaz), ou utilizando técnicas de influência de opiniões (essas bastante mais eficazes). O q acontece actualmente, é q em vez de termos um governo, ou uma instituição religiosa a forçar uma forma de pensamente e de acção à sociedade, é a própria sociedade q o impõe a si mesma. É um dos lados negativos da democracia. Se eu tenho uma ideia com a qual ninguém concorda, serei imediatamente excluido e deixarei de ter "voz".É este fenómeno q está bastante bem descrito nas utopias negras "Nós", "1984" e "Admirável Mundo Novo", como deve concerteza conhecer. E antes destes senhores, na Democracia mais antiga de q há registo, um senhor de seu nome Platão (q curiosamente era uma alcunha, pq o senhor tinha costas mto largas. Platis é a palavra grega para largo) alertava: "A democracia contem em sim a sua antitese.". Curioso, não?! Neste sentido, a internet é um veículo q permite aumentar a diversidade, e escapar à repressão de uma sociedade. Com a internet, se eu tiver uma ideia com a qual ninguém concorda, posso encontrar pessoas de qq parte do mundo q concordem comigo. Desta forma, deixo de ser um renegado com ideias malucas, para passar a ser um conjunto de pessoas q discute essa ideia, e a transmite ao resto do mundo. Tem lados negativos, pois claro. Como por exemplo, a proliferação de sites e ideais neo-nazis na net, q culminam com a publicação de listas de pessoas (e respectivas moradas) inimigas do movimento q devem ser "abatidas". Mas isso só demonstra como a internet é incontrolável, e como tal incapaz de destruir a individualidade. Ou seja, a internet, na forma em q existe hoje, é um veiculo de aumento da diversidade, e nao da sua destruição (aproveito para por um link q talvez lhe tenha escapado: http://pespmc1.vub.ac.be/GBRAIFAQ.html. Se nao escapou, peço desculpa).
Não levará por si só a um cenário Matrix, e nao nos tornará em autómatos q pensam apenas em satisfazer a vontade do colectivo.
P.S.: Acho tb q não nos devemos preocupar com os virus informáticos como entidades autoreplicadoras. Esse virus sao criados por pessoas com objectivos mto especificos, e tem normalmente um tempo de vida curto. Uma evidência disso é q nao existem virus para MACs, mas existem inumeros para PC. Existe até quem diga q a maioria dos virus informáticos sao criados pelas empresas de Antivirus para justificarem a sua existência, mas isso é pura especulação.
Antes de mais, antes de mais: não fiquei ofendido, e muito menos irritado. Aliás, isso acontece-me com cada vez menos frequência :-)
E como podia ficar ofendido com comentários tão pertinentes, que expõem as lacunas do meu discurso e a ligeireza com que escrevo as coisas? :-)
(Vou pondo uns smileys a ver se deixam de haver ambiguidades. Sim, estou mesmo bem disposto. E deliciado pelo diálogo.)
São tantas as pontas que não as vou apanhar todas. Mas aqui vão algumas...
É claro que ser rigoroso não é ser piquinhas. E, nesse sentido, tinha razão quando disse que a evolução não pára. Claro que não, se entendida em sentido lato. Mas eu mantenho que adaptação é um tipo de evolução, e não uma coisa à parte. Não é? Pode haver evolução sem adaptação, mas não vice-versa.
Querendo continuar a fazer de advogado do diabo, sempre direi que ninguém poderia prever, quando a escrita se começou a difundir, que chegaríamos ao presente estado de desenvolvimento tecnológico. E que chegaríamos ao ponto de ter uma porção significativa da humanidade tão dependente desse mesmo desenvolvimento que não é capaz de sobreviver fora dele. Não é possível prever o lado de lá de uma transição de fase: quem sabe onde vai levar o aumento exponencial de capacidade informática, quando chegarmos ao ponto em que as máquinas acordem? É uma especulação interessante pensar num mundo de hiper-organismos de que os seres humanos (ou os seus descendentes) são as células, ligados ciberneticamente. E tão contentes e adaptados ao seu papel como as células do pâncreas ou do fígado.
Mas não insisto mais, que não pensei suficientemente no assunto. E até me parece um cenário pouco plausível, precisamente por causa da base tecnológica. Um pouco como o Mad Max: como é que é possível num deserto pós-nuclear, em que toda a civilização colapsou, haver tantos carros e motas? E as reparações? E as peças? E a gasolina? Os circuitos de distribuição? As refinarias?
A internet não é incontrolável- veja-se o que se passa na China. A generalidade das pessoas é que a quer manter nos moldes actuais. Porque podia ser fortemente controlada e limitada. E se antigamente podiam sempre imprimir-se uns livros à socapa, não me parece possível ter uma rede de computadores escondida.
Finalmente, foi excelente a observação sobre a manipulação das pessoas. Eu acho que nós estamos pré-programados para obedecer, para aceitar a autoridade. Faz parte do nosso passado evolutivo, e é uma característica adaptativa (cá está!) a um tempo em que a sobrevivência passava pela capacidade de formação de grupos coesos. Daí a facilidade com que grandes multidões são manipuladas. Mas isso não aconteceu só com o Hitler, como deve saber muito bem. Hoje estamos a ser continuamente manipulados. Bombardeados com informação, que nos embota a nossa capacidade de reflectir sobre as coisas. Ficamos imersos nas tragédias distantes e perdemos o sentido da nossa possibilidade de mudar as coisas.
Obrigado e volte sempre!
Fico mto contente por ter sido apenas um mal entendido, e mais ainda por apreciar os comentários!
Sim, a adaptação nao ocorre sem evolução, embora a evolução nao seja necessariamente adaptativa. No entanto, a separação é essencial, e acho q nao existe nenhum artigo numa revista com algum coeficiente de impacto em q a distinção nao seja feita. Isto acontece pq os dois processos têm características bastante diferentes. Os geneticistas de populações sempre fugiram da selecção como o diabo da cruz, pq é extremamente dificil de modelar e descrever. E de facto, estamos mto mais avançados em termos de compreensão da evolução (sensu estrito) do q da adaptação. A nao separação das duas deu origem a grandes mal entendidos na história da biologia evolutiva. Veja-se a teoria do equilibrio pontuado de Stephen J. Gould. Descreveram o processo adaptativo, como se correspondesse a evolução sensu lato. O resultado foi uma grande trapalhada e uma discussão interminavel.
Tem razão, qd falava da internet ser incontrolavel referia-me às sociedades ocindentais, e nao ao caso da China (embora alguns hackers consigam tirar partidos de "buracos" na rede para aceder a conteudos proibidos). Aí sim, é incontrolavel, principalmente nos moldes actuais. É posssível, literalmente, encontrar de tudo na net. Por vezes, até fico pasmado com o q é possível encontrar na net.
O exemplo do Hitler foi apenas para demonstrar como a manipulação de opiniãos consegue ser feita mmo com meios de comunicacão "pouco desenvolvidos" (pelo menos comparados com os actuais). A diferença entre essa altura e hoje, é a manipulação era dirigida por um governo, e hoje é essencialmente social. Mas é de facto um tema controvérso. Basta lembrar do caso Marcelo Rebelo de Sousa (q na minha opinião tb foi mto bem aproveitado pelo próprio!!), ou das noticias q passavam na TVE (q eram sempre revistas pelo governo Aznar).
A generalidade dos meios ditos de comunicação social são plataformas de vender publicidade. Nada se discute, verdadeiramente, sob a desculpa da independência e da imparcialidade. E assim se produzem dezenas de jornais, centenas de canais de televisão, todos iguais uns aos outros.
Valha-nos a internet, sim, que ao menos aí é possível partilhar opiniões, saber coisas que escapam ao "nevoeiro" informativo, interagir. Cabe-nos a nós dar o passo seguinte: passar essas coisas para o plano real, discuti-las com outros, marcar a nossa posição, agir. Para sermos algo mais que células ou abelhas...
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