segunda-feira, junho 20, 2005
O valor da união
Perante os problemas que se deparam à UA no presente contexto nacional e internacional, será preciso um grande esforço de todos no sentido de fazer as mudanças necessárias à sobrevivência. Lembrei-me por isso deste desenho de Ken Sprague:
domingo, junho 19, 2005
CV ou Resumé?
Um dos momentos mais marcantes quando se acaba um curso é sem dúvida o da preparação do currículo. E tenho dados muitos conselhos a alunos acerca disto, embora eu próprio tenha pouca experiência nesta área (pois, ainda sou do tempo em que se faziam contratos vitalícios...).
Há dias li sobre a diferença entre um CV e aquilo que os americanos chamam um resumé. Para além da diferença do primeiro ser usado na Europa e o segundo nos EUA, há também questões de contexto e de objectivos. Um CV é sobretudo utilizado em contextos académicos, para documentar o percurso do seu autor. Um resumé é utilizado em contextos profissionais, sendo bastante mais curto.
Hoje descobri estas indicações sobre a preparação de um CV que me parecem muito pertinentes, e resolvi deixá-las aqui, para benefício dos alunos que sei que lêm este blogue de vez em quando. Mas também aponto para estas páginas sobre a escrita de um resumé, e para o CollegeGrad.com, onde podem ser descarregados exemplos de resumés (como este, para um biólogo recém-licenciado)
quinta-feira, junho 16, 2005
Desenvolvimento epistemológico
É possível de alguma forma sobrepôr uma perspectiva temporal e de desenvolvimento pessoal à taxonomia de Bloom. Assim, em 1968, William Perry publicou um esquema de desenvolvimento epistemológico que ainda hoje é usado e que tem pontos interessantes. Neste esquema o estudante começa num estado dualista, em que "o conhecimento é visto como objectivo e definitivo, um conjunto de factos que constitui a verdade acerca de um assunto que deve ser distinguido da opinião, que não pode ser provada". À medida que se apercebem da natureza multifacetada do conhecimento, os estudantes passam por uma fase em que admitem que "o conhecimento depende do esforço pessoal de organização e interpretação da informação disponível, sendo uma interpretação tão boa como outra qualquer". Na fase final, o estudante "tem a percepção de que o conhecimento é melhor expresso como níveis ascendentes de consciência, no qual o indivíduo deve evoluir para novas perspectivas, libertando-se das que já não são úteis".
Tenho estado a basear-me e a traduzir de um texto de Sharon Pugh (arquivado aqui), onde este modelo é descrito e complementado com descrições de outros modelos similares.
A aplicação deste esquema às áreas científicas sugere que a generalidade dos alunos (e dos professores) estão presos nos primeiros estados de desenvolvimento, são sub-desenvolvidos epistemológicos :-) E discutir estes assuntos, ou pelo menos ter consciência deles, parece-me importante num contexto de alteração radical dos paradigmas do ensino. Que é o que se pretende. Ou não?
Tenho estado a basear-me e a traduzir de um texto de Sharon Pugh (arquivado aqui), onde este modelo é descrito e complementado com descrições de outros modelos similares.
A aplicação deste esquema às áreas científicas sugere que a generalidade dos alunos (e dos professores) estão presos nos primeiros estados de desenvolvimento, são sub-desenvolvidos epistemológicos :-) E discutir estes assuntos, ou pelo menos ter consciência deles, parece-me importante num contexto de alteração radical dos paradigmas do ensino. Que é o que se pretende. Ou não?
Nova taxonomia dos objectivos educacionais
Nunca tendo tido formação pedagógica, foi só este ano que vim a saber que existe uma coisa chamada "Taxonomia de Bloom", que classifica os graus de desenvolvimento cognitivo em 6 níveis:
- Conhecimento
- Compreensão
- Aplicação
- Análise
- Síntese
- Avaliação
- Lembrar (Remember )
- Compreender (Understand )
- Aplicar (Apply )
- Analisar (Analyse )
- Avalia (Evaluate )
- Criar (Create )
Aqueles autores cruzam esta lista com a dos diferentes tipos de conhecimento e obtêm a seguinte matriz, que resume o novo modelo:
E, como eu também não sabia o que era, aqui fica uma definição de conhecimento metacognitivo (arquivada aqui), o conhecimento do nosso próprio conhecimento.
terça-feira, junho 14, 2005
Os livros da minha vida: 4 - Artificial Life, Steven Levy
A minha leitura de Artificial Life surge na sequência das pistas deixadas em Jurassic Park, e abriu-me o mundo das ciências da complexidade e das suas implicações em todas as áreas, da ciência à política. Lembro-me de ter ficado surpreendido na altura por ser doutorado em Biologia e não ter à mão uma definição de "vida". Devemos ser a única profissão que não consegue definir o seu campo de estudo...
As minhas leituras sobre a origem da vida e sobre a própria história da vida (recomendo, a este propósito, R. Fortey, Life: An Unauthorized Biography), mudaram a minha percepção da Biologia. O clique, desta vez, foi pôr toda a pilha de informação sobre os seres vivos actuais num contexto histórico e geológico. Pois não faz muito mais sentido estudar as coisas assim, integradas, em vez de obrigar as pessoas a memorizar factos desconexos? Mas foi o que me fizeram e, tanto quanto sei, continuam a fazer: duvido que haja muitos cursos de Biologia onde a problemática da origem da vida seja abordada (isso é deixado aos físicos!) ou onde as Zoologias e Botânicas do tempo do Darwin tenham substituídas por uma abordagem integrada e contextualizada (isso é deixado, pasme-se, aos geólogos!). Falar-se-á das novas visões da relação entre os grandes grupos de seres vivos? Falar-se-á da teoria endosimbiótica? Não sei, mas duvido. Poi se ainda recentemente, no contexto da reestruturação das áreas disciplinares do Departamento, se continuava a defender a separação em Zoologia e Botânica...
segunda-feira, junho 13, 2005
Porque morreu um poeta...
Eugénio de Andrade
As Mãos e os Frutos
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
As Mãos e os Frutos
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
domingo, junho 12, 2005
Super-organismos e especialização
Muitos biólogos pensarão que a evolução da espécie humana parou. De facto, muitas das pressões selectivas que nos moldaram no passado desapareceram- pelo menos para aqueles suficientemente sortudos para terem nascido do lado certo do planeta. Mas continuamos de facto a evoluir. Não talvez no sentido físico: nada nos transformará nas criaturas frágeis de cérebros gigantescos da FC dos anos 60. Mas a internet pode ser o início do sistema nervoso de um super-organismo, em que cada pessoa terá a individualidade de uma abelha num enxame. É uma idéia muito plausível, que ocupa gente como Francis Heylighen.
Coisas complicadas são sempre melhor entendidas com ficção- eu, por exemplo, decidi escrever esta entrada depois de ter lido a sátira na Wired, e me ter lembrado de um texto do Lazarus Long (aliás R. A. Heinlein):
A human being should be able to change a diaper, plan an invasion, butcher a hog, conn a ship, design a building, write a sonnet, balance accounts, build a wall, set a bone, comfort the dying, take orders, give orders, cooperate, act alone, solve equations, analyze a new problem, pitch manure, program a computer, cook a tasty meal, fight efficiently, die gallantly. Specialization is for insects.
sábado, junho 11, 2005
Utopia, ou Uma visão do futuro do ensino na Universidade dos Açores
Deixo aqui um texto de trabalho que resolvi escrever para condensar ideias. É que, se é difícil traçar caminhos, é impossível fazê-lo sem uma visão clara do destino a atingir...
Seguindo as orientações clarividentes do Ministério, a UA tem agora um número reduzido de áreas de formação no 1º ciclo, tendo concentrado a sua oferta num núcleo reduzido que corresponde às áreas fortes de formação e investigação dos seus docentes. Já no 2º ciclo a aposta foi em oferecer especializações em áreas em que as especificidades da UA e dos Açores são relevantes, abrindo parcerias nacionais e internacionais que valorizam essas especificidades e alargam a base de recrutamento.
Na sequência de um trabalho em que toda a comunidade docente se empenhou, a UA adoptou uma descrição das competências a atingir pelos seus alunos ao longo do seu tempo de formação. Esta descrição, aliada aos perfis de competências definidos pelas comissões de cada um dos cursos, permitiu estruturar os cursos (e, dentro destes, as disciplinas) em função de objectivos de aprendizagem. Obviamente, as actividades lectivas e a avaliação estão alinhadas com esses objectivos: a cada objectivo de aprendizagem corresponde uma determinada estratégia de leccionação a qual, por sua vez, integra um processo de avaliação que permite acompanhar a progressão do aluno, corrigir os problemas de aprendizagem detectados e comprovar que se alcançaram os objectivos pretendidos. Lições tradicionais, aprendizagem baseada em problemas e estágios em organizações exteriores à universidade complementam-se para tornar a formação uma actividade estimulante e pessoalmente enriquecedora, tanto para alunos como para docentes.
Professores de outras universidades e elementos seleccionados da sociedade civil fazem parte integrante de um processo de avaliação regular de cada curso, continuando um processo de abertura ao exterior que começou com a reestruturação inicial dos cursos, suscitada pelo processo de Bolonha. Mas o trabalho fundamental no campo da avaliação é feito internamente, com o contributo de professores e alunos, produzindo as Direcções de Curso relatórios regulares cujas resoluções são acatadas de forma expedita. Os professores apoiam-se mutuamente no melhoramento das estratégias de aprendizagem, também como resultado das frequentes acções de formação. O Código de Boas Práticas Lectivas serve de guia estruturador das relações professor-aluno, sendo as poucas queixas formais resolvidas prontamente.
É difícil acreditar que há tão pouco tempo atrás a organização por Departamentos interferia com a oferta lectiva, havendo inclusivamente competição entre os departamentos! A organização por áreas disciplinares e grupos de disciplinas é de facto a melhor forma de optimizar os recursos humanos e materiais, ao mesmo tempo que se melhora a oferta lectiva e se promove a interdisciplinaridade. O que parecia impossível no início, sentar na mesma mesa professores de departamentos diferentes para planear actividades lectivas, veio a revelar-se um dos principais factores de melhoramento da qualidade do ensino.
Os livros da minha vida: 3 - O Parque Jurássico, M. Crichton
Aceleramos no tempo para 1996. Estou a acabar o doutoramento e compro para oferecer a um amigo e aluno de biologia uma história com dinossauros que me pareceu interessante. Ele excomungou-me dias depois porque não tinha conseguido largar o livro até o acabar, e que isso lhe tinha trasntornado o estudo para as frequências. Emprestou-mo então, para se vingar. E fiquei preso, também.
O livro tem todos os ingredientes de uma história de suspense com sucesso, sobrepostos a uma base com actualidade científica. Aliás Michael Crichton domina bem a fórmula e, de "The Andromeda strain" até ao mais recente "State of Fear", é considerado o pai do techno-thriller.
Mas não é por causa dos talentos de Crichton que o livro aqui aparece: é por causa dos assuntos que aborda.
Para quem estava a fazer um doutoramento sobre ecologia de comunidades, foi uma revelação descobrir a teoria dos sistemas complexos, sobretudo apresentada de forma tão atrativa. Isso levou-me a pesquisar o assunto o que me levou a muitos campos, do estudo da evolução ao da origem da vida (e da vida artificial), e a revisitar o Macroscópio, que não lia desde os tempos da faculdade. Todas estas leituras vieram confirmar uma daquelas minhas impressões quase subconscientes: que TUDO está ligado, que nada é simples. Para compreendermos verdadeiramente qualquer coisa temos que ir para lá da superfície, e para mudarmos alguma coisa temos que mudar as suas causas primárias.
De repente muitas coisas começaram a fazer clique, e não apenas no campo da Biologia. O modo como comportamentos altamente ordenados podem surgir sem uma autoridade centralizada é ilustrado pelas sociedades de insectos (carregar Setup e depois Go) mas também é confortável para a minha costela anarquista.
É um livro que penso que todos os biólogos devem ler, pela forma como integra uma série de assuntos, da biologia molecular à ecologia de comunidades. E como ilustra a importância de ter um conhecimento aplicado, dominando a teoria mas estando consciente das suas implicações em casos concretos mas, sobretudo, das suas ligações a tudo o resto.
sábado, junho 04, 2005
Os livros da minha vida: 2 - História do Futuro, R. A. Heinlein
Deve ter sido no início dos anos 80 que comprei na Feira do Livro os 3 volumes da História do Futuro (Time enough for love, Robert A. Heilein). Na altura já tinha uma atração por ficção científica, mas este livro mudou para sempre a minha compreensão do género. Heinlein usa a FC como campo para expor as suas ideias sobre a organização da sociedade, mas tecendo ao mesmo tempo cenários realistas de desenvolvimento tecnológico e científico. Intelectualmente muito mais estimulante do que as coboiadas do StarWars e coisas do género.
A ideia central do livro é: o que aconteceria se vivêssemos mais tempo? MUITO mais tempo? A vida da generalidade das pessoas mede-se em meia dúzia de décadas, marcadas por acontecimentos padronizados: infância, adolescência, emprego, casamento, filhos, reforma. E se a vida não parasse aí? Qual o sentido do casamento, por exemplo, se as pessoas vivessem várias centenas de anos? Em "A História do Futuro", o casamento é tido como um contrato entre duas pessoas com a finalidade de ter e criar filhos. Tem um princípio e um fim, independentemente da evolução emocional das pessoas envolvidas.
Há um ângulo biológico aqui, que tem a ver com o modo como as pessoas atingem essa longevidade: por selecção, claro. Existe uma Fundação Howard que tem um fundo que paga a pessoas que vêm de famílias com história de longevidade para se casarem e terem filhos (é obrigatório ter todos os avós vivos na altura do casamento). E o prémio é maior se os membros do casal já pertencerem a famílias Howard. Claro que há depois problemas de consanguinidade, mas a ideia é interessante...
A componente política dos livros também me cativou: Heinlein é um libertário, no sentido em que defende a menor intervenção possível do Estado na vida pessoal. Mas também coloca os seus personagens sob estados totalitários, ou em comunidades em que os costumes são controlados. Nessas situações, é interessante ver como advoga o disfarce, as vidas paralelas e, sempre que possível, a evasão. Os personagens de Heinlein têm pouca intervenção política- mudam-se. O que faz sentido se pensarmos em situações extremas, como a dos judeus na Alemanha de Hitler: "In a society in which it is a moral offense to be different from your neighbor your only escape is never to let them find out."
Penso que li todos os livros de Heinlein, excepto For Us, the Living, que acabo de descobrir que saiu o ano passado. Outro livro dele que me marcou foi Estranho numa terra estranha (Strange in a Strange Land), cuja leitura partilhei com alguém muito especial. Pode ter-se uma ideia geral do pensamento de Heinlein lendo os Notebooks of Lazarus Long, o personagem central de Time Enough for Love.
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A ideia central do livro é: o que aconteceria se vivêssemos mais tempo? MUITO mais tempo? A vida da generalidade das pessoas mede-se em meia dúzia de décadas, marcadas por acontecimentos padronizados: infância, adolescência, emprego, casamento, filhos, reforma. E se a vida não parasse aí? Qual o sentido do casamento, por exemplo, se as pessoas vivessem várias centenas de anos? Em "A História do Futuro", o casamento é tido como um contrato entre duas pessoas com a finalidade de ter e criar filhos. Tem um princípio e um fim, independentemente da evolução emocional das pessoas envolvidas.
Há um ângulo biológico aqui, que tem a ver com o modo como as pessoas atingem essa longevidade: por selecção, claro. Existe uma Fundação Howard que tem um fundo que paga a pessoas que vêm de famílias com história de longevidade para se casarem e terem filhos (é obrigatório ter todos os avós vivos na altura do casamento). E o prémio é maior se os membros do casal já pertencerem a famílias Howard. Claro que há depois problemas de consanguinidade, mas a ideia é interessante...
A componente política dos livros também me cativou: Heinlein é um libertário, no sentido em que defende a menor intervenção possível do Estado na vida pessoal. Mas também coloca os seus personagens sob estados totalitários, ou em comunidades em que os costumes são controlados. Nessas situações, é interessante ver como advoga o disfarce, as vidas paralelas e, sempre que possível, a evasão. Os personagens de Heinlein têm pouca intervenção política- mudam-se. O que faz sentido se pensarmos em situações extremas, como a dos judeus na Alemanha de Hitler: "In a society in which it is a moral offense to be different from your neighbor your only escape is never to let them find out."
Penso que li todos os livros de Heinlein, excepto For Us, the Living, que acabo de descobrir que saiu o ano passado. Outro livro dele que me marcou foi Estranho numa terra estranha (Strange in a Strange Land), cuja leitura partilhei com alguém muito especial. Pode ter-se uma ideia geral do pensamento de Heinlein lendo os Notebooks of Lazarus Long, o personagem central de Time Enough for Love.
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sexta-feira, junho 03, 2005
Os livros da minha vida: 1 - a Bíblia
Não, não sou religioso. Considero-me ateu e materialista (neste sentido), embora deixe sempre uma pontinha de dúvida, para o que der e vier... Mas houve uma época na minha vida (há muito tempo) em que acreditei sinceramente que a Bíblia era a palavra de deus e que tudo o que lá estava escrito era verdade e devia ser interpretado literalmente: deus criou o mundo em 6 dias e descansou ao sétimo, e criou o dia e a noite dois dias antes de criar o sol, e feliz de quem pegar nos filhos de Babilónia e der com eles nas pedras... estão a ver a ideia. Não comia carne de porco, descansava ao sábado.
Li a Bíblia de uma ponta à outra, várias vezes. Procurava nela respostas para perguntas cada vez mais complexas, até que as respostas deixaram de me satisfazer. Aprendi mesmo assim algumas coisas, das quais as duas mais importantes terão sido:
Li a Bíblia de uma ponta à outra, várias vezes. Procurava nela respostas para perguntas cada vez mais complexas, até que as respostas deixaram de me satisfazer. Aprendi mesmo assim algumas coisas, das quais as duas mais importantes terão sido:
- que nos devemos reger pelas nossas próprias convicções, mesmo que estejamos em minoria. Certas ou erradas, temos o direito de ter as nossas próprias ideias, e os outros têm o dever de nos respeitar, mesmo que não concordem connosco. E vice-versa, obviamente (mas isto não aprendi na Bíblia, que essa é feita para quem está sempre, indubitavelmente, do lado da verdade).
- a procurar apoio bibliográfico para afirmações e decisões, a justificar o que digo. Foi a minha preparação para o mundo científico, e para a importância dos livros como repositório de conhecimento e como a forma de nos erguermos nos ombros dos nossos antepassados.
Os livros da minha vida
Pegando desavergonhadamente (mas com uma pontinha de inveja) na idéia vista no Espelhos e Labirintos, inicio hoje uma série temática de entradas sobre o tema acima.
Sempre gostei de ler, mas há uma meia dúzia de títulos que me marcaram. Decidi reflectir um pouco sobre porque é que isso acontece. Tenho a impressão que um livro marca quando sintetiza ideias e sentimentos difusos que tínhamos antes de o ler, quando catalisa a reacção para a qual todos os reagentes estavam preparados.
Mas então, não se aprende? Acho que sim, que como numa imagem 3D, uma nova forma de ver as mesmas coisas corresponde a um conhecimento novo. E novas formas de ver as coisas modificam o modo como passamos a ver o mundo e a interagir com ele.
Sempre gostei de ler, mas há uma meia dúzia de títulos que me marcaram. Decidi reflectir um pouco sobre porque é que isso acontece. Tenho a impressão que um livro marca quando sintetiza ideias e sentimentos difusos que tínhamos antes de o ler, quando catalisa a reacção para a qual todos os reagentes estavam preparados.
Mas então, não se aprende? Acho que sim, que como numa imagem 3D, uma nova forma de ver as mesmas coisas corresponde a um conhecimento novo. E novas formas de ver as coisas modificam o modo como passamos a ver o mundo e a interagir com ele.
quarta-feira, junho 01, 2005
A construção do conhecimento
Mote:
"Perspectiva muito utilitária, esta. Nem tudo o que é importante "serve" para alguma coisa. O conhecimento constrói-se ou integra o que já se conhece? decida-se..."
Comentador(a) anónimo(a) à entrada Fun
Glosa:
Eu diria que não pode ser importante se não serve para nada. Não tenho uma visão utilitária das coisas, nem me parece que ela se infira do texto. Era preciso definir o sentido do "servir", mas acho que considerações éticas e/ou estéticas, por exemplo, "servem" para muito. E deviam fazer parte integrante do ensino de cursos na área científica, os de Biologia por maioria de razão. O argumento era no sentido de se ministrar um ensino aberto, que deixasse à interacção professor-aluno-comunidade uma parte importante da selecção dos assuntos a explorar. O modelo actual é o de uma selecção de coisas "importantes" feita unilateralmente pelo professor e transmitida aos alunos. E parece-me que assim se perdem oportunidades de ir ao encontro do interesse dos alunos, correndo o risco de os deixar desmotivados e alienados.
Não me tenho por indeciso, nem me parece que as duas proposições (O conhecimento constrói-se ou integra o que já se conhece?) sejam mutuamente exclusivas. Vejo-as como complementares. Gosto da expressão "construção do conhecimento" porque combina a ideia de conteúdos, factos ou capacidades isoladas, unitárias (os tijolos) que são combinados num processo de ordem superior, que implica juízos de valor acerca dos materiais a usar ou a rejeitar, acerca do modo como eles devem ser integrados, e sobretudo acerca do objectivo de todo o processo. De facto, aprende-se para quê?
Sendo um processo, o conhecimento constrói-se através da integração de factos e conhecimentos anteriores. Uma vez construído, torna-se ele próprio material para a construção de novos conhecimentos. Ou estarei a misturar dois conceitos: o de conhecimento , que se constrói, e o de facto , que se aprende? Hum... tenho que ler o que a wikipedia diz acerca disto.
"Perspectiva muito utilitária, esta. Nem tudo o que é importante "serve" para alguma coisa. O conhecimento constrói-se ou integra o que já se conhece? decida-se..."
Comentador(a) anónimo(a) à entrada Fun
Glosa:
Eu diria que não pode ser importante se não serve para nada. Não tenho uma visão utilitária das coisas, nem me parece que ela se infira do texto. Era preciso definir o sentido do "servir", mas acho que considerações éticas e/ou estéticas, por exemplo, "servem" para muito. E deviam fazer parte integrante do ensino de cursos na área científica, os de Biologia por maioria de razão. O argumento era no sentido de se ministrar um ensino aberto, que deixasse à interacção professor-aluno-comunidade uma parte importante da selecção dos assuntos a explorar. O modelo actual é o de uma selecção de coisas "importantes" feita unilateralmente pelo professor e transmitida aos alunos. E parece-me que assim se perdem oportunidades de ir ao encontro do interesse dos alunos, correndo o risco de os deixar desmotivados e alienados.
Não me tenho por indeciso, nem me parece que as duas proposições (O conhecimento constrói-se ou integra o que já se conhece?) sejam mutuamente exclusivas. Vejo-as como complementares. Gosto da expressão "construção do conhecimento" porque combina a ideia de conteúdos, factos ou capacidades isoladas, unitárias (os tijolos) que são combinados num processo de ordem superior, que implica juízos de valor acerca dos materiais a usar ou a rejeitar, acerca do modo como eles devem ser integrados, e sobretudo acerca do objectivo de todo o processo. De facto, aprende-se para quê?
Sendo um processo, o conhecimento constrói-se através da integração de factos e conhecimentos anteriores. Uma vez construído, torna-se ele próprio material para a construção de novos conhecimentos. Ou estarei a misturar dois conceitos: o de conhecimento , que se constrói, e o de facto , que se aprende? Hum... tenho que ler o que a wikipedia diz acerca disto.
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