terça-feira, maio 24, 2005

Os 10 erros da escola

Na sequência da animada discussão à minha entrada a propósito do Calvin & Hobbes, relembrei-me de Roger Schank. Conheci-o através de um seu livro, luminoso: "Coloring Outside the Lines". E agora fui procurar textos dele.

Descobri que é director de uma companhia chamada Socratic Arts, onde podem encontrar-se alguns dos seus textos de opinião. Encontrei uma entrevista com ele na Edge, a revista electrónica para super-dotados sem nada que fazer. E encontrei um texto delicioso sobre os 10 principais erros das escolas. E aqui entenda-se (eu entendo!) escolas em sentido lato. Traduzo apenas os títulos (mas vão lá ler o resto!):
  1. As escolas agem como se aprender pudesse ser dissociado de fazer.
  2. As escolas acreditam que a avaliação faz parte da sua missão.
  3. As escolas acreditam que têm a obrigação de criar curricula padrão.
  4. Os professores acreditam que devem dizer aos estudantes o que acham que é importante saber.
  5. As escolas acreditam que a instrução pode ser independente da motivação para fazer alguma coisa.
  6. As escolas acreditam que estudar é uma parte importante da aprendizagem. (Não resisto: Studying is a complete waste of time )
  7. As escolas acreditam que separar os alunos por idades é intrinseco à organização escolar.
  8. As escolas acreditam que os estudantes só fazem as coisas para receberem uma boa nota.
  9. As escolas acreditam que a disciplina é uma parte inerente da aprendizagem.
  10. As escolas acreditam que os estudantes têm um interesse básico em aprender o que as escolas decidem ensinar-lhes.

O Benfica e os chimpanzés

No dia em que o Benfica ganhou o campeonato tive que sair à rua e fui apanhado num engarrafamento causado pelos carros das pessoas que festejavam na rua. Acabei por estacionar e fazer um bodaco do caminho a pé. Fiquei assustado. Tudo aquilo (os gritos, os apitos, os saltos, os urros, os cântigos guturais) criava um ambiente selvagem e primitivo. Pessoas (quase todas homens, quase todas jovens) passavam umas pelas outras num estranho ritual de reconhecimento, de pertença a uma tribo.

Pensei no que me aconteceria se me apetecesse gritar o nome de um outro clube, e tive uma ideia da resposta ao passar por uma televisão e ver os incidentes no Porto: um grupo de benfiquistas de um lado, um grupo de portistas do outro, e polícia de intervenção no meio. Agressões, gente presa. Iindividualidade desaparecida na massa ululante. Pessoas que não se conheciam de lado nenhum, unidas no ódio contra um conjunto de outras pessoas por... por quê, de facto?

Lembrei-me do livro de Richard Wrangham e Dale Peterson, "Demonic males. Apes and the origin of human violence", e do paralelismo traçado entre os humanos e o chimpanzé, Pan troglodytes. É que também nesta espécie, com a qual partilhamos quase todo o nosso genoma, estão documentados casos de agressão por grupos de machos a elementos de outros grupos, de violação, de agressão às fêmeas, de infanticídio.

Parece que a tendência para a violência e o genocídio vem de longe, no nosso passado evolutivo. E tive a sensação de estar a assistir ao mesmo tipo de comportamento que está por trás de acontecimentos como os da Bósnia ou do Ruanda, só para não recuar mais de 10 anos. A diferença é só quantitativa.

E eu, que sei que o racionalismo não nos salvará das nossas tendências inatas, e que sei que a espécie humana não aprende com o passado, fico a pensar nos bonobos, P. paniscus, uma outra espécie de chimpanzé mas caracterizada pela gentileza, pela não-violência. E repesco as palavras de Wrangham e Petersen: "female power is the secret to male gentleness among bonobos".

quinta-feira, maio 19, 2005

Fun

Calvin & Hobbes: snake

Guardo este recorde do Calvin & Hobbes à quase 10 anos. Acho que diz muito sobre as percepções que alunos (e professores) têm do ensino: uma coisa aborrecida, que se faz com sacrifício e a que as pessoas se submetem porque são obrigadas, ou como ritual de passagem para um emprego.

A maneira como geralmente se ensina, de facto, mata a curiosidade, o espírito crítico, o próprio entusiasmo. Eu vejo a diferença entre os alunos do 1º e os do 4º ano: estes mais maduros, claro, com mais conhecimentos e experiências, mas também mais amargos e mais desiludidos.

E isso não devia ser assim! Não precisa de ser assim! As fronteiras entre disciplinas tinham que desaparecer. Os professores tinham que deixar de estar de costas voltadas uns para os outros e para os alunos. As aulas tinham que sair do campus e do papel e passar para o campo, para as empresas, para a sociedade. E todo o ênfase da academia devia ser no estímulo dos interesses dos alunos, e em responder e ajudar a encaminhar esses interesses no sentido de uma plena realização pessoal e profissional.

O processo de Bolonha podia ser o caminho para isto. Mas, infelizmente, não acredito que o seja.

segunda-feira, maio 16, 2005

Equador

O Equador é um país importante no mundo, pela sua quota da reserva de biodiversidade planetária. Para qualquer biólogo, basta lembrar que é o país a que pertencem as Galápagos. Mas o seu território continental abrange também ecossistemas diversos e ricos, desde as zonhas andinas de montanha até às florestas costeiras e incluindo uma parte da Amazónia. É também um país rico em termos humanos: 35% dos seus 12 milhões de habitantes pertencem a várias tribos indígenas.

É frequente incriminar-se estes países pela sua responsabilidade na destruição da biodiversidade que têm ao seu cuidado. Poucas vezes, no entanto, chegam ao nosso conhecimento as condicionantes que levam ao estabelecimento de políticas ambientalmente destrutivas.

O Equador tem petróleo. Muito, aparentemente. E sucessivos governos têm apostado na exploração do petróleo como via para o "desenvolvimento" do país. Não vou abordar agora a questão de onde vem esta idéia. Sucede que os principais resultados para o país têm sido a devastação ambiental e humana associada à exploração petrolífera e à construção de pipelines. O lucro tem ido todo direitinho para as companhias internacionais que exploram o negócio, e para os credores do Banco Mundial que emprestaram o dinheiro.

Quando se conhecem os bastidores do negócio, como resulta da exposição agora feita por Greg Palast no TheNation.com, não se pode calar a indignação: o país deve prescindir de 90% dos lucros devidos ao aumento do custo do petróleo resultante da guerra no Iraque? Esses lucros devem ser sifonados directamente para os bolsos dos "investidores" internacionais, mantendo 60% da população na pobreza? E quando o presidente ameça alterar estas cláusulas, é chamado à atenção pela megera Condoleeza Rice, claro. O investimento feito no Iraque tem que ser recuperado...

De quem é a culpa da destruição ambiental, então?

domingo, maio 01, 2005

Felicidade

No estado de tensão em que estou (desculpem, mas não quero dizer stress nem consigo dizer estresse...) é óbvio que este artigo do Prospect me tinha que trazer aqui. As idéias base já são minhas conhecidas há muito tempo: dinheiro só dá felicidade até certo ponto- aquele em que as necessidades básicas estão satisfeitas. Podemos discutir o que são necessidades básicas, mas demonstra-se que muitas pessoas vivem muito acima desse nível e que, em termos médios, a felicidade não cresce linearmente com o rendimento.

Por outro lado, já enerva toda a política ser dominada pela economia. Estas últimas eleições, então, foram um enjôo. O PSL ainda tentou discutir a eutanásia e a clonagem, mas ninguém lhe ligou. Nem deviam claro, porque PS e PSD tentaram à sua maneira iludir as questões essenciais. Não interessa ao dia-a-dia da generalidade das pessoas o ritmo de crescimento da economia, nem se o défice ultrapassa os 3%. Aos menos abonados interessa o emprego, ou pelo menos o trabalho. E não é seguro que uma coisa ou outra estejam ligadas aqueles indicadores macro-económicos. Aos restantes interessa muito mais a felicidade. Pensem no vosso caso. Perguntem às pessoas! É uma necessidade biológica, pois então.

Daí que muita gente defenda que, em vez do Produto Interno Bruto, se devesse falar da Felicidade Interna Bruta. E não são uns maluquinhos: há nóbeis da Economia, "think-thanks" influentes e a idéia até já foi adoptada por um país, o Butão.

Aqui ficam alguns apontadores sobre este assunto: um artigo importante dos psicólogos Diener e Seligman, o "Well-Being Program" do grupo londrino New Economics Foundation, o Spirit in Business (de onde se pode descarregar o relatório de Sander Tideman), e, já agora, as exigências utópicas de Eduardo Galeano.