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Depois de um estágio de alguns meses na minha mesa de cabeçeira, voltei a pegar no livro de Robert H. Peters "A critique for ecology". É um livro denso, de uma erudição extensa, causada pela preocupação do autor com fundamentar o seu argumento, examinando-o de várias perspectivas e ilustrando-o com citações e referências. Mas é um livro fundamental, que não sei como me foi possível chegar até aqui sem ler.
Espero que eu faça parte de um grupo minoritário de pessoas ligadas à Ecologia (enquanto ciência) que ainda não leu este livro. É que a mensagem nele contida é muito importante, e pode ser resumida da seguinte forma: a Ecologia está em crise porque muito dela tem falta de rigor científico e uma fraca capacidade preditiva. Muita da Ecologia usa conceitos mal definidos, coloca questões irrespondíveis, e elabora teorias não falsificáveis.
Quando peço aos meus alunos uma definição de Ecologia, salta logo a velha "é a ciência que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente", que já vem pelo menos do 7º ano! Mas o que é que isto quer dizer, exactamente? Ou, o que vai dar no mesmo, o que é que, então, não é Ecologia? Mas já pelo menos desde 1974 que Charles Krebs insiste que a Ecologia é o estudo científico da distribuição e abundância dos seres vivos": "where organisms are found, how many occur there, and why". Só parece pouco à primeira vista, enquanto as consequências desta definição não assentam. Depois percebe-se que esta é única forma de construir uma ciência digna desse nome.
Não sei se a situação desta disciplina se alterou desde a publicação do livro de Peters em 1991, poucos anos antes da sua morte (ver obituário). Mas pelo menos eu estou a aprender muito...