domingo, novembro 05, 2006

... e ainda por cima é gira!


Acabei de ler o último livro de Celia Farber, "Serious Adverse Events. An uncensored history of AIDS".


Como a própria reconhece numa nota introdutória, muito do que está nestas 340 páginas já foi publicado noutros locais. No entanto a autora re-escreveu todo o material de modo a fazer sentido num contexto de livro, acrescentando um prefácio e dois apêndices muito interessantes. O prefácio dá a nota pessoal que ressoa por toda a obra de Farber: "Does HIV cause AIDS? I don't know if it does or it does not- I'm really eqquiped to know. The story I have tried to tell, and which this book explores, is the story not of my own beliefs about science (I am not a scientist) but of the epic human drama between those who say yes and those who say no to this question." Os apêndices são linhas cronográficas (timelines) muito úteis, sobretudo a última que demonstra como se decretou que a presença de anticorpos contra o HIV equivale à infecção por este vírus, mesmo que este só seja detectável por PCR. Um dos muitos contra-sensos da "ciência" da sida que, tal como os outros, foi imposto por declaração, passando ao lado dos preceitos científicos básicos.

E Farber conta histórias. A de Peter Deusberg, claro, e a de Kary Mullis. Mas também a de Joyce Ann Hafford, que participou num ensaio clínico sobre a eficácia da neviparina na redução da transmissão do HIV de mãe para filho. Joyce Ann morreu devido aos efeitos da medicação que recebeu, tendo a criança nascido de cesariana momentos antes. (Outro conta-senso: a ministração de drogas com efeitos mutagénicos e carcinogénicos comprovados a mulheres grávidas e a recém-nascidos.)

Histórias que se lêem com um aperto no coração. E que dão um contexto dramático à importância da definição correcta de "ciência".

Muitos dos artigos de Celia Farber podem ser lidos aqui. Da entrevista na Bookslut acerca deste livro permito-me citar uma passagem que reflecte exactamente o que eu próprio sinto perante muito do que passa ultimamente por divulgação da ciência:
The nature of journalism is that you are reporting on a deadline and looking for good quotes. It is easy to see how science journalism can turn out like a game of telephone.

It is disembodied from the human, the emotional, the psychic and social context in which someone is speaking to you… It’s so sterile. As I look back on years and years of interviews, I remember the emotion. Of course the data is embodied in the emotions and vice versa -- but when I read straight, respectable, kosher, approved science journalism, I can’t connect to it. I don’t know how the interviewer feels or the interviewee feels. It’s very gee-whiz: “Gee-whiz: scientists have discovered x, y, z.” Or a gene that causes this and causes that… In most cases, what it should say is X scientist, working for X interest, totally governed by X biases said to me on this date that X is true, but all of those are leaps that shouldn’t be taken quite so easily.

Sem comentários: